A declaração do governador Carlos Brandão ao jornal O Globo, com a frase "é preciso esquecer que foi governador", gerou diversas interpretações e repercussões no cenário político do Maranhão.
A fala de Brandão ocorre em um cenário onde até então, tudo era especulação, sobre um possível distanciamento entre ele e o ex-governador Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas agora a mensagem passada é clara, e sugere que Brandão busca consolidar sua própria identidade como governador, desvinculando-se da influência de seu antecessor.
A frase "depois de governar, é preciso esquecer que foi governador" aponta para uma possível influência de Dino ainda na gestão Brandão, seja de forma direta ou indireta (entende-se grupo político).
A fala de Brandão pode ser interpretada como uma busca por autonomia e independência em sua gestão, sinalizando que ele deseja tomar suas próprias decisões. O que parece óbvio para um governador.
Brandão também expõem as divergências políticas, e até possíveis tensões administrativas enfrentadas no seu governo em ralação aos dinistas. (entenda-se guerra de bastidores).
Se foi intencional ou não, o certo é que com essa entrevista Brandão reforça a sua imagem e se posiciona como um líder forte e independente, ele dá a entender que deseja terminar a sua gestão sem interferências, que precisa se sentir seguro para tomada de decisão sobre deixar ou não o governo em 2026.
Se a intenção foi essa. E eu acredito que foi, (reforçar a imagem política do governador) acho que ele teve êxito! Por que aqui no Maranhão, a entrevista ao oglobo, causou de imediato inúmeras reações. Os deputados Rodrigo Lago (PCdoB) e Othelino Neto ex- (PCdoB) e atual (Solidariedade) se manifestaram ao blog do Marco dÉça:
“Em razão de profundas divergências programáticas, há tempos sustento que todo o grupo que defende o legado do Governo Dino deixe o governo. Não foi esse o governo que elegemos, infelizmente”, completou Lago.
Já a internet pegou fogo. O que antes era apenas "expeculação", veio à tona com inúmeras interpretações e análises nas redes sociais.
O fato é que muita água ainda vai rolar por baixo da ponte, e os desdobramentos sobre as declarações do governador em breve serão conhecidos.
Seja com a saída dos dinistas da gestão, como sugeriu o deputado Rodrigo Lago; fechamento ou consolidação de grupos políticos, entre outras manifestações, muito em breve serão conhecidos por todos nós. Por enquanto, confira a íntegra da entrevista do governador ao oglobo
Entrevista: 'Me distanciei do Dino. Depois de governar, é preciso esquecer que foi governador', diz Carlos Brandão
Governador do Maranhão detalha afastamento do agora ministro do STF e aproximação com Sarney e avalia como 'passageira' queda de popularidade de Lula no Nordeste
Por Bernardo Mello e Luísa Marzullo — Rio de Janeiro
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O governador do Maranhão, Carlos Brandão, em entrevista ao GLOBO — Foto: Júlia Aguiar/O Globo
O governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), diz estar afastado, mas não rompido com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de quem foi vice no estado. Em entrevista ao GLOBO, o político ainda avalia como "passageira" a queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste e defende mais diálogo entre o governo federal com o agronegócio e os evangélicos. Veja a entrevista completa abaixo.
O senhor foi vice-governador do hoje ministro Flávio Dino, do STF, por dois mandatos no Maranhão, mas depois se distanciaram. Por quê?
Deixamos de conversar quando ele foi para o Supremo. Há um grupo mais próximo a ele, quatro ou cinco deputados, que se distanciaram um pouco do governo. Há alguma insatisfação por espaço, e acabam envolvendo o próprio ministro. Acho que, depois de governar, é preciso esquecer que foi governador. Quando tem muita interferência, começa a ter problema. Estamos politicamente afastados, mas não rompidos.
O STF suspendeu uma indicação do seu governo ao TCE, em uma liminar do Dino, e nomeações de familiares do senhor em cargos públicos, em decisão do ministro Alexandre de Moraes.
No caso do TCE, está atrapalhando muito o funcionamento da instituição, considero muito ruim para o estado. Tem um grupinho no estado ligado ao ministro (Dino) que cria essa situação e leva a nível de Supremo. O que a gente esperava é que não tivesse interferência do Supremo, lamento muito isso. É muito ruim o Judiciário entrar nessa esfera. Espero que seja resolvido. Tentei algumas vezes (falar com o ministro), mas não prosperou.
O senhor concorreu em 2014 e 2018 no Maranhão contra a família Sarney, de quem agora se aproximou. O que mudou?
Nós disputamos em 2014 contra o Lobão Filho e em 2018 contra a Roseana Sarney, só que em 2022 eu me aproximei muito do grupo do presidente José Sarney. Foram nossos adversários por dois mandatos, mas hoje estamos muito próximos. Há pessoas do MDB que participam do meu governo, e eles entregaram a presidência do partido para o meu irmão (Marcus Brandão). Estamos alinhados. (...) O Flávio sempre foi muito ferrenho adversário dos Sarney, é uma pessoa mais ideológica. Eu não sou assim, tenho boa relação com os evangélicos, com o agro. Eles me adoram.
Falta ao presidente Lula mais diálogo com esses segmentos?
Eu disse ao presidente sobre essa questão dos evangélicos e do agro. Deixar essa questão ideológica um pouco de lado. O ministro (Carlos) Fávaro é do agro, uma boa ponte.
Não há um risco de os partidos mais de centro começarem a abandonar o governo?
Me parece que o Ciro (Nogueira, presidente do PP) deu entrevista falando sobre isso. Mas o próprio ministro (do Esporte, André) Fufuca (PP-MA), com quem eu conversei, me disse que não, que essa entrevista foi mal interpretada. Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil do Bolsonaro. Agora, se perguntar ao Fufuca, ele não quer sair do governo, não.
Ao GLOBO, Sarney disse que “é melhor sair da política muito bem do que já velho”, em um recado a Lula . Concorda?
O mais importante, além da idade, é a saúde. Vejo o presidente Lula saudável e ainda é um grande líder. Houve uma pequena perda de popularidade, mas isso é coisa passageira. Governo tem altos e baixos.
Por que a queda de avaliação de Lula chegou ao Nordeste, onde o PT é historicamente mais forte?
Isto é principalmente devido à alta dos alimentos, que atinge todo mundo, em especial as classes menos favorecidas. Mas acho que vai melhorar com a proposta do governo de zerar o ICMS de todos os produtos da cesta básica. Eu mesmo já fiz duas reduções de ICMS nos últimos anos, que diminuíram em 30% o custo da cesta básica no Maranhão. Este também será o ano de tirar do papel as obras do Novo PAC, o que vai melhorar a avaliação do governo. Só no nosso estado foram quase sete mil casas do Minha Casa Minha Vida que estavam paradas.
Cenário mais polarizado exige uma pressa maior nas entregas?
Exige. Eu mesmo estou num ritmo muito acelerado. Estruturei o Maranhão, porque com a queda do ICMS dos combustíveis, quase quebrou o estado. Foi uma demagogia, à época, do presidente Bolsonaro.
Mas zerar o ICMS dos alimentos não vai também prejudicar a arrecadação dos estados?
Vai aumentar o consumo, isso acaba aquecendo a economia. É a história da bicicleta: se você para de pedalar, cai. Essa medida tem que ser tomada.
O quanto o apoio do PSB a Lula em 2026 depende de Geraldo Alckmin seguir na vice?
Eu estou alinhado ao presidente Lula. Não sei qual será a posição do meu partido. A presidência do PSB vai mudar, ainda não sei o que o (prefeito de Recife) João Campos pensa. Uma decisão dessas se dá mais perto da eleição.
Considera João Campos um possível presidenciável?
No momento, ele não tem a idade mínima (35 anos) para ser presidente. Enxergo ele como um forte candidato ao governo de Pernambuco em 2026. Ele tem a herança política do pai (Eduardo Campos), que era carismático e um gestor de excelência. (João) É novo, simpático, leve e está fazendo uma boa gestão. Mas não é fácil falar sobre futuro, porque estamos falando de 2030 no caso dele. Será que até lá não vão aparecer outros líderes?
O senhor aprovou um projeto na Assembleia de complemento do Bolsa Família, o “Maranhão Livre da Fome”. Como vai funcionar?
Para esse programa, eu tive que aprovar um imposto sobre arma, munição, cigarro, venda de avião, helicóptero. E com isso a gente vai arrecadar cerca de R$ 30 milhões por mês para custear o programa. É um cartão de R$ 200 que é bloqueado para compra de bebida alcoólica e para apostar em bets.
Seu plano para 2026 é Senado?
Existe uma condição natural de o governador se candidatar para o Senado, mas isso é algo que eu só vou discutir em 2026. Por mais que eu queira, preciso saber como pensam os 13 partidos da minha base. Se antecipar a discussão, as pessoas ficam focadas na política e não enxergam suas entregas.
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