Eleição de Boric leva Chile à esquerda e pode afastar ainda mais as relações com o Brasil

Gabriel Boric era favorito para presidência do Chile nas pesquisas eleitorais


Confirmando o favoritismo apertado nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno, o deputado Gabriel Boric foi eleito neste domingo, 19, o novo presidente do Chile. Vindo do movimento estudantil, o jovem de 35 anos venceu o ultradireitista José Antonio Kast, de 55, e se tornou a pessoa mais nova a ser escolhida para comandar o país. Com um discurso de fuga dos extremos e a “benção” da ex-presidente Michelle Bachelet, que citou a preservação dos direitos humanos do país, Boric pregou a imagem do seu concorrente à do ditador Augusto Pinochet e deu passos ao centro para conquistar o eleitorado que ainda estava em dúvida dias antes das eleições. Sua vitória e a guinada do governo da nação à esquerda pode sinalizar um afastamento ainda maior do Chile em relação ao Brasil, que já está isolado no cenário sulamericano.

“O ano de 2022 vai ser um ano de bastante tensão na região porque teremos o fim do primeiro governo de Bolsonaro, não sabemos se ele terá condições de ser reeleito; teremos no Chile esta mudança, e por sua vez, na Argentina teremos um governo bastante fragilizado por conta do parlamento ter uma vitória da oposição. Com o Boric eleito, o Chile deve ser mais um país a se manter distante do governo Bolsonaro”, diz a professora da Universidade Federal de São Paulo, Regiane Nitsch Bressan. Para a especialista, além das claras disparidades ideológicas entre os dois presidentes, a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia e o aparente “desprezo” que ele tem em relação ao Mercosul continuaria a afastar o Chile do Brasil independente do candidato eleito. Durante o último debate presidencial, tanto Boric quanto Kast elogiaram a forma como o presidente Sebastián Piñera lidou com o controle da doença no país. Dois meses após o início da aplicação das vacinas na América Latina, a nação era a mais vacinada da região, com 20% de pessoas imunizadas. O controle de fronteiras também foi rigoroso e apontado como “correto” no período de debates.

Como não dividem fronteiras ou negócios de grandes dimensões, os dois países não têm uma relação de aproximação tão expressiva quanto outras relações da América Latina. “O Chile é um país importante na América do Sul, mas não é tão importante para o Brasil em termos de comércio. A Argentina, por exemplo, é muito mais importante para a gente. Então, do ponto de vista diplomático, não é um país que nos chama tanta atenção”, afirma o professor de ciências econômicas da Universidade Anhembi Morumbi, Marcelo Balloti Monteiro. Ele lembra que com as eleições no Brasil pautadas para 2022, o que deve definir a relação entre os dois países deve ser o mandatário a ocupar a cadeira a partir de janeiro de 2023.

“Boric só vai assumir em 2022, e aqui no Brasil, nosso presidente e outros candidatos estão mais preocupados com as nossas eleições do que com qualquer estreitamento ou afastamento de relações bilaterais. Acredito que não vai ter grandes alterações e também vai depender muito de quem vai ocupar a cadeira no Brasil em 2023. Se for o atual presidente [Bolsonaro], é possível que as relações esfriem um pouco, porque o nosso atual presidente tem uma rejeição muito forte em relação a pessoas da extrema esquerda, então seria uma relação um pouco mais fria. Temos que ver quem vai se eleger. Se o Lula assumir, ele deve ter uma relação muito boa [com o Boric]. Uma terceira via de centro aqui no Brasil, independente de quem seja, também consegue flutuar bem entre os extremos, então não deve ter uma relação ruim com o candidato”, analisa. Além de abrir as portas para a Constituinte, o candidato da esquerda colocou em suas promessas o incentivo ao ensino público e o aumento do salário mínimo no país.



Fonte: Jovem Pan

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