Dirigentes partidários questionam se “o interesse coletivo” ficou “à mercê da vontade política” das emissoras que detêm concessões públicas.
Presidentes de seis partidos de esquerda – PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede – assinam, neste domingo (25), o manifesto conjunto “Democracia derrotada”, que denuncia a ausência dos tradicionais debates entre candidatos a prefeito na TV. No texto, publicado na Folha do S.Paulo, os dirigentes questionam se “o interesse coletivo” ficou “à mercê da vontade política” das emissoras que detêm concessões públicas.
“Ao longo dos anos, os debates têm se mostrado momentos essenciais para o eleitor conhecer melhor os candidatos e definir seu voto”, aponta o manifesto, que é assinado por Carlos Lupi (PDT), Carlos Siqueira (PSB), Gleise Hoffmann (PT), Juliano Medeiros (PSOL), Luciana Santos (PCdoB) e Pedro Ivo (Rede). “Por meio deles, dribla-se o artificialismo da propaganda eleitoral no rádio e na TV e dos sites e perfis de redes sociais dos candidatos, expondo-os a situações reais de conflito de ideias. Neste momento em que a campanha nas ruas está reduzida em razão da pandemia e que vivemos o fenômeno avassalador das fake news, tal espaço ganha importância ainda maior.”
Os dirigentes também desmascaram o pretexto falacioso usado pelas emissoras para suspender os debates – a pandemia de Covid-19. “Todos os canais de TV, com algumas diferenças, mantiveram suas grades de programação, recorrendo inclusive a entrevistas e debates em plataformas digitais. Por que seria diferente justamente na campanha eleitoral?”, indagam.
Em 1º de outubro, a Band realizou a primeira rodada de debates eleitorais, reunindo candidatos às prefeituras de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e outros municípios. Na sequência, porém, emissoras como Globo e Record cancelaram a realização de seus debates, que já tinham datas agendadas com as campanhas.
Conforme o manifesto, a vitória de Jair Bolsonaro e da extrema-direita nas eleições presidenciais de 2018 foi favorecida por sua ausência nos encontros televisivos entre candidatos. “Bolsonaro, ciente do seu péssimo desempenho e do impacto que isso teria no eleitorado, criou escusas para não participar dos debates e manter a liderança nas pesquisas. Hoje sabemos o quanto isso custou caro para a nossa democracia”, afirma os presidentes dos partidos de esquerda.
“Agora, candidatos e candidatas em situação semelhante sequer precisarão se expor a essa polêmica. Ficam dispensados de fazer o confronto democrático de ideias e propostas e de ter de responder, ao vivo, às denúncias que precisam explicar”, agrega o texto.
Segundo os partidos, “a ausência de debates também favorece os concorrentes já conhecidos pela população, que contam com o aparato da máquina pública e o apoio de grandes empresários. Ao não confrontarem seus opositores, escapam de ter que justificar números negativos de suas gestões, metas não alcançadas ou investimentos em projetos inócuos”.
Nos municípios com uma quantidade elevada de candidatos, os dirigentes partidários propõem a realização de debates em dias alternados: “Basta, por exemplo, dividir os debates em dois dias e sortear os participantes para cada um, como já tem sido feito, com sucesso, por muitas emissoras no Brasil afora”.
O manifesto de PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede se encerra com uma conclamação: “Que as emissoras de televisão assumam sua responsabilidade e comprometimento com a transparência e o processo democrático brasileiro”.
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