Folha de S. Paulo: Os herdeiros de Prestes, Brizola e Jango no PCdoB

Em matéria intulada "Herdeiros da esquerda pregam frente unida contra Bolsonaro", com a apresentação dizendo que "filho de Jango e netos de Prestes e Brizola atuam agora na direção do PCdoB", o texto fala da nova realidade do Partido com a incorporação do Partido Pátria Live (PPL). 


O texto inicia falando do século passado, quando três gaúchos despontaram como líderes nacionais de esquerda à frente de movimentos que marcaram a história do país: Luiz Carlos Prestes (1898-1990), João Goulart (1919-1976) e Leonel Brizola (1922-2004). Segundo a Folha, eles "foram admirados na mesma medida que combatidos".

"Seus grupos podiam tanto ser aliados, superando as inúmeras divergências, como ser opositores entre si, tensionando suas discordâncias. Dependia da "conjuntura", termo que a esquerda ainda utiliza para se referir aos contextos políticos. Agora, os herdeiros políticos dessas figuras estão filiados no mesmo partido. Desde o final do ano passado, João Vicente Goulart, filho de Jango, Carlos Brizola, neto de Brizola, e Ana Maria Prestes, neta de Prestes, fazem parte da direção nacional do PCdoB, o Partido Comunista do Brasil", relata.

A matéria diz ainda que "a sigla, porém, não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira das últimas eleições e foi incorporada ao PCdoB, legenda de Ana Maria desde 1997". A incorporação foi aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última terça-feira (28)", constata.

Na matéria, Ana Maria afirma que "essa união demonstra a capacidade do PCdoB, apesar das diferenças, de absorver figuras que estão preocupadas com o Brasil". "Entre as dissonâncias recentes, exemplifica: no governo Dilma, enquanto o PCdoB era base, o PPL era oposição; no início da campanha Lula Livre, o PPL não aderiu ao movimento que pede a libertação do ex-presidente Lula (PT) como fez o PCdoB", diz a Folha.


Ana Maria Prestes, neta de Luiz Carlos Prestes - Reprodução Facebook

Segundo o jornal, Prestes, revolucionário comunista, liderou a coluna militar que percorreu 25 mil quilômetros entre 1925 e 1927 e ajudou Getúlio Vargas a tomar o poder em 1930 — mais tarde, sua mulher Olga Benário foi entregue aos nazistas por Getúlio e morreu em uma câmara de gás na Alemanha.

E prossegue dizendo que Goulart, o Jango, foi ministro do Trabalho no último governo Vargas (1951-54) e presidente do país de 1961 a 1964, deposto pelos militares. Brizola era governador do Rio Grande do Sul quando comandou a campanha da legalidade, em 1961, para que Jango, então vice, assumisse a Presidência depois da renúncia de Jânio Quadros.

Diz ainda a Folha: Jango acabou assumindo mediante um acordo para governar em um regime parlamentarista, o que acabou afastando Brizola, que defendia que se obedecesse à Constituição. O parlamentarismo foi derrubado pela população em 1963, via plebiscito.

Na versão da matéria, se atualmente a esquerda é dividida — o campo apresentou cinco candidatos a presidente em 2018 —, o mesmo ocorria naquela época. "Ainda assim, as três figuras podem ser aproximadas historicamente, avalia Juremir Machado, professor de comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)", afirma o texto.

Machado é autor dos livros "Jango: a Vida e a Morte no Exílio" (2013, L&PM), e "Vozes da Legalidade" (Sulina, 2011), obras que abordam episódios históricos do período. "O denominador comum deles é uma ideia de utopia, de um futuro melhor. Mas trilharam caminhos diferentes", diz. De acordo com o professor, "Prestes era um comunista assumido que acreditou no processo revolucionário", o que não se aplica a Brizola e Jango", cita a matéria.


Brizola Neto, que foi ministro do Trabalho no governo Dilma Rousseff - Luis Ushirobira - 1º.mai.2012/Valor

Brizola seria "um meio termo" entre os demais e "tinha a ideia de que a política deveria servir à maioria e diminuir as desigualdades sociais". "Nos termos de hoje, Jango seria um social-democrata. Era um sujeito de família rica que aos poucos descobre as mazelas do país e faz um governo reformista de esquerda", diz.

A Folha comlementa: "Para o filho de Jango, o momento atual sob o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) coloca em xeque os valores defendidos pelo seu pai, como democracia e soberania nacional. Por isso, defende uma união maior da esquerda." "É preciso construir esse desprendimento político para construir essa frente. Não dá para cada partido sentar para conversar cada um já com candidato antecipado para 2022. Isso não nos conduz para lugar nenhum" diz Goulart Filho.

A opinião é compartilhada por Ana Maria e Brizola Neto, segundo o jornal. Os herdeiros também relacionam o governo de Bolsonaro à necessidade de resgatar a memória dos antigos líderes.

Para o neto de Brizola, "o legado político não é hereditário. Mas o fato de sermos descendentes nos possibilitou a convivência com essas figuras histórias, com quem enfrentou, mas terminou derrotado pelo processo da ditadura. Ver isso de perto acaba dando uma visão diferente da história e do povo".


João Vicente Goulart, filho de Jango, que disputou a Presidência pelo PPL (Partido Pátria Livre) em 2018 - Bruno Santos - 14.ago.2018/Folhapress.


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