COMEÇOU: Ministro da Educação critica deputada e MP vai investigar aliada de Bolsonaro que pede denúncia de professores



Especialistas e até o ministro da Educação criticaram a atitude da deputada estadual eleita de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, do PSL. A deputada incitou alunos a filmarem seus professores em sala de aula e denunciassem condutas consideradas por ela como “ideológicas”.

De acordo com o ministro da Educação, Rossieli Soares, disse ao Estado que “esse não é caminho adequado para problemas dentro da escola”. “Há canais na diretoria, nas secretarias municipal e estadual para denúncias.”

Dois membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) também criticaram a deputada. “É preciso tomar cuidado porque isso pode descambar para uma censura da atividade docente”, disse o ex-secretário de educação de Santa Catarina Eduardo Deschamps, que é também conselheiro do CNE. Para ele também, nesse momento o Brasil precisa de conciliação e não de “ações dessa natureza”. “Essa onda de denuncismo não é boa para ninguém.”

Já para o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Francisco Soares, a proposta é o oposto do que se quer para uma educação de qualidade. “O importante é incentivar os alunos a pensar, questionar, refletir. E não a achar que sabe tudo e pode denunciar", disse em entrevista ao Estado de S.Paulo.

MP vai investigar deputada que pediu o monitoramento de professores 


O Ministério Público de Santa Catarina vai investigar a conduta da deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL), que divulgou nas redes sociais um comunicado pedindo que estudantes catarineneses gravem e denunciem manifestações político-partidárias contrárias ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). 

Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a 25ª Promotoria de Justiça de Florianópolis instaurou, via ofício, um procedimento para apurar possível violação ao direito à educação e adotar as medidas cabíveis.

“Segunda-feira, 29 de outubro, é o dia em que os professores e doutrinadores estarão inconformados e revoltados. Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político partidárias em virtude da vitória de Bolsonaro. Filme ou grave todas as manifestações político-partidárias ou ideológicas”, diz o texto da deputada que circulou nas redes sociais.

Em nota, os sindicatos representantes dos trabalhadores em educação das redes pública e privada municipal, estadual e federal do Estado de Santa Catarina classificam o comunicado da deputada eleita como ameaça e ataque à liberdade de ensinar do professor. Segundo os sindicatos, isso “é tipicamente aplicado em regimes de autoritarismo e censura”.

“A sugestão de denúncia dos professores por estudantes caracteriza um assédio e uma perseguição em ambiente escolar, algo que remonta aos tempos da ditadura civil-militar brasileira”, diz a nota

Os sindicatos dizem ainda que os próprios sistemas de ensino têm autonomia para propor, em conjunto com toda a comunidade escolar, o currículo e demais atividades pedagógicas. “Atitudes de provocação interferem de forma ilegal e inconstitucional no processo democrático de organização escolar, extrapolando a competência de fiscalização do trabalho escolar e do acompanhamento das atividades profissionais feitas pelas equipes pedagógicas”.

Ameaças

Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), em todo o país, professores têm sofrido ameaças. A orientação do sindicato é que os docentes que passarem por situação de constrangimento e ameaças mantenham a tranquilidade e reúnam o máximo de evidências e provas das situações, que inclusive façam “prints”, ou seja, copiem os conteúdos caso as ameaças tenham sido feitas por meio de redes sociais. Os professores devem procurar a seção sindical local para que as medidas cabíveis sejam tomadas.

Anistia Internacional

Em nota, a Anistia Internacional diz que crescem no Brasil os relatos de professores em escolas e em universidades que têm sofrido pressões indevidas, coerções e intimidações. “Tentar impedir o debate saudável e necessário de ideias e conteúdos em sala de aula, inclusive através da proibição de autores consagrados e temas fundamentais para o pleno desenvolvimento humano, é uma violação do direito à educação e à liberdade de expressão”, diz.

Segundo a entidade, as autoridades brasileiras devem atuar imediatamente para proteger o direito de professores e alunos em escolas e universidades e o pleno exercício do direito à liberdade de expressão e do direito à educação.



De agências de notícias

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