Quais são os impactos da greve dos caminhoneiros medidos até agora?

Montadoras, empresas aéreas e agropecuária ainda sentem efeitos das paralisações, que devem pesar

Produção de carros caiu 15% em maio, fim da sequência de 18 meses de altas

Foram onze dias seguidos de bloqueios nas estradas em praticamente todo o território nacional, impedindo a circulação de pessoas e produtos. Agora, é hora do setor produtivo contabilizar os prejuízos, que devem se disseminar pela economia, pressionando preços e pesando sobre a ainda tímida tentativa de retomada do crescimento.

O mercado começou a fazer as contas. O último Boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira 4, mostrou que a projeção de crescimento este ano passou de 2,37% para 2,18%. Foi a quinta semana consecutiva de baixa nas estimativas. O pessimismo inclui a expansão de apenas 0,4% do PIB no primeiro trimestre e a greve dos caminhoneiros.

O mesmo levantamento aponta outra consequência da paralisação: a pressão sobre os preços. Mesmo com a economia patinando, a estimativa do mercado para o IPCA – o índice oficial de inflação – em 2018 passou de 3,6% para 3,65%. Apesar da alta, o porcentual projetado ainda está abaixo do centro da meta de inflação perseguida pelo BC este ano, de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3% e 6%). No caso de 2019, os economistas projetam um IPCA de 4,01%.

São Paulo já deu uma aperitivo. A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que coleta preços no município, apurou uma evolução de 0,19% na inflação de maio, contra deflação em abril. Para este mês, as previsões foram refeitas e a instituição estima uma inflação de 0,57%.

Ainda é impossível ter a noção exata dos prejuízos para o País e há também um novo fator de indefinição: uma queda de braço em Brasília em torno de uma das principais reivindicações dos caminhoneiros atendida pelo governo, o preço mínimo para o frete.

Após pressão de produtores rurais, o governo federal recuou e vai rever a tabela de preços mínimos negociada com os grevistas. Os ruralistas dizem que a tabela eleva os custos do frete em até 150%. Os caminhoneiros prometem reagir e pararem novamente se o recuo for confirmado.

A votação do projeto de lei que define o frete mínimo estava marca para terça-feira 5, mas foi adiada para a noite de hoje. A conferir.

Prejuízo na produção


O setor produtivo também está concluindo seus cálculos. Nesta quarta-feira 6, foi a vez da indústria automotiva divulgar seus dados.

Segundo a Anfavea, entidade que representa o setor, a produção caiu 15% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado. O resultado interrompe uma sequência de 18 meses de altas na mesma base de comparação.

A fabricação de veículos leves, caminhões e ônibus foi de 212,3 mil unidades em maio. Na comparação com abril, quando 266,1 mil veículos foram produzidos, a queda foi superior a 20%. A indústria estima ter perdido entre 70 mil e 80 mil unidades de produção durante a paralisação dos caminhoneiros.

Na construção civil, a estimativa é de perdas superiores a 5 bilhões de reais segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Pode demorar até três semanas para que as atividades voltem ao ritmo normal.

A falta de combustível atingiu em cheio a aviação. Logo no primeiro dia de paralisação houve cancelamento de voos, situação que só foi se agravando no decorrer da greve.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que representa Avianca, Azul, Gol e Latam, estima um prejuízo diário de mais de 50 milhões de reais, que envolve cancelamentos, pousos técnicos para reabastecimentos, no shows e atendimento a passageiros que deixaram de embarcar.

Outro setor profundamente atingido pelos atos dos caminhoneiros foi o agropecuário. Houve desabastecimento generalizado de frutas e verduras, itens que não puderam chegar aos centros de abastecimento das cidades. No entanto, como esses produtos são majoritariamente cultivados por pequenos produtores, é difícil calcular as perdas de forma unificada.

Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estima que a paralisação gerou impactos totais de 3,150 bilhões de reais ao setor produtor e exportador de aves, suínos, ovos e material genético. Ao todo, 167 unidades frigoríficas interromperam suas atividades. Por falta de ração, 64 milhões de aves adultas e pintinhos morreram durante a greve.

A entidade avalia, ainda, que reorganização da cadeia produtiva e da distribuição de produtos após a suspensão das atividades durante a greve gerará custos extras ao setor. “Até que se reestabeleça toda a sistemática setorial, ficará mais caro às indústrias produzir cada quilo de carnes e cada unidade de ovo”, afirma a ABPA, que já fala sobre a necessidade de aumento da oferta de linhas de crédito para a manutenção da retomada da cadeia agroindustrial.

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