Por que o Brasil não consegue voltar a crescer?


Número trimestral é positivo, mas falta fôlego para que se possa falar em recuperação. Resposta passa pela fragilidade do emprego, escassez de crédito e investimento

Mais um trimestre se passou e novamente o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) volta a decepcionar, com crescimento de 0,4% no primeiro trimestre de 2018. Embora em linha com as expectativas – o mercado esperava alta entre 0,1% e 0,5% – o número indica que ainda falta fôlego para o País de fato se recuperar da recessão de 2015 e 2016.

Para saber o que leva o Brasil a ter tanta dificuldade em retomar – e sustentar – seu crescimento econômico CartaCapital ouviu cinco economistas, com uma só pergunta: por que o Brasil não consegue crescer?

No ano passado o Brasil cresceu apenas 1%. Antes disso, foram dois anos seguidos de uma recessão que fez a economia brasileira encolher 7% entre 2015 e 2016. Houve um suspiro de alívio em 2017, mas que ficou longe de repor as perdas da crise e levou a economia brasileira a recuperar apenas o mesmo patamar de 2011.

No ano passado, uma safra recorde fez a diferença logo no primeiro trimestre, e levou a economia brasileira a interromper uma sequencia de oito semestre de retração. Mas a ajuda do campo não deve se repetir agora.

O resultado em 2017 foi puxado principalmente pela expansão de 13% na agropecuária. Por outro lado, houve estabilidade no desempenho da indústria e crescimento de apenas 0,3% no setor de serviços, que detêm o maior peso na composição do indicador.

A perda de fôlego da economia fica mais clara na base de comparação anual. Em relação ao 1º trimestre de 2017, o PIB cresceu 1,2%, mostrando uma desaceleração em relação aos trimestres anteriores. A variação trimestre frente ao mesmo trimestre no ano anterior foi de 0, 0,4%, 1,4% e 2,1%, do primeiro para o quarto trimestre, respectivamente.

As baixas expectativas de crescimento estão ligadas à atual instabilidade política e aos altos índices de desemprego, que comprometem o poder aquisitivo da população e o consumo das famílias, que não se confirmou como o alívio esperado para o PIB no ano passado.

E a greve dos caminhoneiros impõe um novo desafio: ainda não é possível calcular os prejuízos que a paralisação trará para a economia brasileira, mas alguns setores serão particularmente afetados.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avalia os prejuízos em 3 bilhões de reais. Até o domingo 27, 64 milhões de aves adultas e filhotes morreram pelos efeitos da greve. As fazendas não têm recebido ração em quantidade suficiente para alimentar os animais.

Embora o segmento de agropecuária seja o mais vulnerável à atual crise, pois deixar de escoar a produção implica perdas de safra e a morte de animais, outros setores também vêm sofrendo forte impacto, como o da construção civil. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) afirma que 40% das atividades do setor foram atingidas, o que representou um comprometimento de 2,4 bilhões em negócios.

Já a indústria automotiva, que suspendeu suas atividades na última quinta-feira 24, deixou de arrecadar 1,3 bilhão em tributos, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). E o prejuízo das empresas aéreas já passa da casa dos 400 milhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

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