A grande marcha das mulheres contra Trump e seus objetivos






Um ano depois da Marcha das Mulheres, que ocorreu assim que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA- foram cerca de 654 manifestações por todo o país-, elas voltaram às ruas de diferentes cidades, com a ambição de se transformar em um movimento para permitir a chegada das mulheres no poder

No ano passado, o alvo das manifestações era a eleição de um presidente machista. Esse ano, a pauta foi maior. Com cartazes com frases como “agarre eles pelas legislativas” (em resposta a declaração de Trump no passado de que deve-se "agarrar as mulheres pela vagina"), as mulheres querem derrotar os republicanos nas eleições de 2018 para o Senado. “No ano passado, a raiva de que uma pessoa com seu histórico pudesse entrar na Casa Branca nos motivou”, disse uma das mulheres sobre o presidente. “Esse ano, é sobre igualdade para as mulheres". Segundo a ONG Emily’s List, que promove a participação das mulheres na política, desde a eleição presidencial de 2016, 25.000 mulheres procuraram seus escritórios com a intenção de disputar algum cargo.

Katie O'Connor, uma advogada de 39 anos de Knoxville, Tennessee, que foi até ao National Mall, em Washington, para se manifestar, quer ver Trump fora da Casa Branca. "Não acredito que essa Administração faça alguma coisa boa pelas mulheres", afirmou em declaração ao Publico.

Não é à toa a insatisfação das eleitoras com Trump. Além das inúmeras declarações machistas e sexistas proferidas pelo presidente, muitas delas levadas a público durante sua campanha, Trump coloca-se do lado dos conservadores e contra o direito delas. Durante o seu primeiro ano na Casa Branca, tentou bloquear o acesso a cuidados de saúde para mulheres, permitindo aos estados cortar o financiamento da organização Planned Parenthood, que presta serviços de financiamento familiar – e que também faz intervenções voluntárias contra a gravidez, se solicitada, sendo por isso um alvo da direita conservadora norte-americana.

Proibiu também o financiamento a organizações de ajuda humanitária em outros países que incluem o aborto nos cuidados para a saúde. Segundo a Newsweek, houve um corte de cerca de 8800 milhões de dólares.

Desde a campanha para as eleições presidenciais de 2016, Trump teve um nível de aprovação bastante mais baixo entre as mulheres do que entre os homens. Um estudo de opinião do Pew Research Center de Maio mostrava que 46% dos homens dava um parecer favorável ao desempenho de Trump enquanto presidente, mas apenas um terço das mulheres norte-americanas fazia o mesmo.

Um objetivo e tanto

Em 2017, após as primeiras marchas contra o atual presidente, as organizadoras apelaram àquelas que protestavam- muitos e muitas pela primeira vez- para que se mantivessem ativas politicamente e que resistissem a Administração Trump. O apelo foi ouvido. Construíram-se forças políticas locais- inclusive nas zonas rurais, onde Trump se mantém forte- para agitar as eleições no Senado e na Câmera dos EUA, que acontecerão em novembro desse ano. Agora a Marcha das Mulheres voltou às ruas e se mostra como um movimento que também quer se afirmar politicamente, com o objetivo de eleger mais candidatas e candidatos que se preocupem com suas reivindicações.

"O voto é a ferramenta mais poderosa que vocês têm à vossa disposição", disse a atriz Eva Longoria na manifestação de Los Angeles. "Todos os que têm o privilégio de votar devem fazê-lo." O presidente da câmara, Eric Garcetti, do Partido Democrata, escreveu no Twitter que 600 mil pessoas participaram na marcha na sua cidade. "Se houvesse mais mulheres como as que vejo aqui hoje no Congresso, na Casa Branca, eleitas para governadoras, teríamos uma América muito melhor", disse o secretário do Comité Nacional do Partido Democrata, Tom Perez.

Donas de casa, trabalhadoras, artistas e celebridades participaram dos protestos. Nomes de Hollywood como Scarlett Johansson, Natalie Portman e Viola Davis participaram da marcha. Portman lembrou de como, aos 13 anos, descobriu o que é ser objetivada. Johansson subiu ao palco para explicar como ela tinha sido condicionada a agradar os homens porque sentia que seu valor profissional era medido pela conveniência deles. Enquanto Davis afirmou que a mudança virá, mas que não chegará sem custos.

Em entrevista para o The Washington Post, em especial ao jornal português Público, Terry Karro, com 66 anos e advogada em Washington, teme ser ingênua ao esperar que esses movimentos consigam eleger democratas suficientes para vencer os republicanos no Senado. Mas informa o plano: “o que temos dito é que se conseguirmos influenciar as pessoas de forma local, vamos conseguir espalhar o movimento de forma mais geral”.

A reportagem especial conta ainda sobre Ann Diamond, que foi uma das participantes na marcha de Twisp em 2017, e é agora candidata a um lugar na câmara dos representantes do estado de Washington. Concorre de forma independente, contra um republicano que ocupa o lugar há 15 anos. Diamond, médica, candidata-se por estar indignada com o que o Partido Republicano vem fazendo para tentar acabar com o Obamacare. “O nosso Governo parece ter deixado de nos representar”, afirma.

Algumas dificuldades do objetivo principal– diminuir o número de representantes republicanos nas eleições e aumentar os democratas- segundo o Washington Post, seriam a falta de uma liderança forte e a falta de financiamento por parte do Comitê Nacional Democrata, além da luta interna entre os ativistas do partido, o que pode limitar a colaboração.

"Seria bom que houvesse alguma direção estratégica para os esforços e não apenas valores gerais que partilhamos", comentou Dayna L. Cunningham, diretora executiva do Laboratório de Inovadores de Comunidade do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, ainda para o jornal norte-americano. Para ela, é necessária uma coordenação de nível superior, divisão de trabalho e estabelecimento de objetivos, para a melhor organização frente ao objetivo para novembro.

Uma coisa é certa: as mulheres não deixarão de lutar frente ao avanço do conservadorismo defendido pela Administração de Donald Trump.

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