No G20, Temer mente, diz que “crise econômica no Brasil não existe”

Faixa com “Fora Temer” estendida na fachada de um edifício da universidade de Hamburgo, na Alemanha, onde ocorre o G-20

 Ao chegar no hotel em que está hospedado, Temer disse aos jornalistas que não há crise no país. “Você sabe que crise econômica e política [...] crise econômica no Brasil não existe. Vocês têm visto os últimos dados”, afirmou.

Michel Temer desembarcou nesta sexta-feira (7) em Hamburgo, na Alemanha, para participar do encontro de cúpula do G20. A recepção foi uma faixa com “Fora Temer” estendida na fachada do Geomatikum, edifício da universidade de Hamburgo, na Alemanha, onde ocorre o encontro.

“Não existe crise econômica, presidente?”, questionou um jornalista. “Não, pode levantar os dados e você verá que nós estamos crescendo empregos, estamos crescendo indústria, estamos crescendo agronegócio. Lá não existe crise econômica”, respondeu Temer, encerrando rapidamente a entrevista.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que o país tem hoje 13,8 milhões de desempregados, encerrando o trimestre em 13,3%.

Enquanto os demais chefes de Estado aproveitam o G20 para realizar encontros bilaterais, a agenda de Temer está vazia. O jantar com a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, anfitriã do evento, foi cancelado. 

A previsão divulgada pelo próprio governo é de que Temer realize passagem relâmpago por Hamburgo e retorne ao Brasil cedo no sábado, perdendo a última sessão de trabalho da cúpula que trata de empoderamento da mulher, digitalização e emprego.

Em matéria publicada no site da BBC Brasil, destaca Temer chegou para o encontro do G20 “sem o brilho de quase uma década atrás, quando a ascensão do grupo coincidiu com o auge de visibilidade do país no mundo”, se referindo aos governos de Lula e Dilma.

A matéria frisa ainda que, no final de 2008, logo após o estouro da bolha norte-americana, o G20, formado pelas principais economias desenvolvidas e emergentes, deixou de ser apenas um grupo de discussão financeira para um fórum de chefes de Estado e governo.

“Mas se naquela época o Brasil despertava admiração mundial ao conciliar forte crescimento com redução da desigualdade de renda, agora o país chama atenção pela persistência da crise econômica, pela profusão de escândalos de corrupção e pela confusão política sem saída rápida aparente, observam especialistas em política externa ouvidos pela BBC Brasil”, constata.

A matéria cita o segundo encontro do G20, em 2009, realizado em Londres, em que Lula chegou a ser chamado pelo então presidente norte-americano Barack Obama de “o cara” e “o político mais popular da terra”.

“Temer não terá muita voz ou influência na reunião. O Brasil não desempenha hoje nenhum papel importante nos assuntos econômicos mundiais. A crise de governo, os retrocessos econômicos e os escândalos de corrupção fizeram com que a maioria dos principais países do mundo e agências internacionais se tornasse cautelosa sobre manter relações próximas com o Brasil”, disse o especialista em América Latina e presidente emérito do centro de pesquisas Inter-American Dialogue Peter Hakim.

Para a professora do Instituto de Relações Internacionais da USP Maria Antonieta Lins, “a presença do Temer [no G20] é extremamente nefasta para o Brasil”.

“A imagem dele está completamente desgastada nacionalmente e internacionalmente. Eu acompanho a imprensa internacional todos os dias, ele é uma figura praticamente ridicularizada em todos os continentes”, afirma. “Então, [sua ida ao G20] parece ser essa pessoa fingindo que está tudo normal, sendo que ele pode ser processado a qualquer momento, sair do posto. É uma coisa um pouco patética, infelizmente”, completa.

O desprestígio de Temer no G20 não é de hoje. No encontro no ano passado, que aconteceu três dias após o impeachment de Dilma, ele foi o único líder que não teve o nome citado na lista de presença. Em vez de apresentar o nome de Michel Temer, a lista elencou “líder brasileiro”.

Agora, Temer ficou de fora do programa de imprensa da cúpula, que lista presidentes como o argentino Mauricio Macri e o russo Vladimir Putin.

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