Diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil afirma que país está num beco sem saída. "Com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição", diz.
Maioria no Congresso ainda protege o presidente Michel Temer de um impeachment, avalia analistaFoto: Getty Images
Maioria no Congresso ainda protege o presidente Michel Temer de um impeachment, avalia analistaFoto: Getty Images
O Brasil está parado devido à crise e, com ou sem o presidente Michel Temer, não há uma solução à vista, avalia o jurista alemão Jan Woischnik, diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil.
Em entrevista à DW, Woischnik afirma que não vê nenhum nome que poderia substituir Temer. "Em eleições indiretas, os deputados e senadores poderiam acabar escolhendo um parlamentar num Congresso em que grande parte de seus membros é acusada de corrupção."
DW Brasil: Que avaliação o senhor faz da atual situação política do país?
Jan Woischnik: O país está parado, como num bloqueio imposto a si mesmo. Os poderes Executivo e Legislativo se preocupam somente com si mesmos e em limitar os danos até agora sofridos pela Operação Lava Jato, enquanto o Judiciário se politiza - e esse círculo vicioso causa um prejuízo duradouro para a democracia brasileira. Está tudo parado por conta da grande crise que foi gerada com o início da Lava Jato. Esse bloqueio é muito perigoso, porque a crise não é algo pontual, mas já dura anos.
Temer conseguirá terminar seu mandato?
Não sei dizer, pois há muitas questões em jogo, inclusive pedidos de impeachment, e sobretudo por o PSDB estar rachado na questão se vai continuar apoiando Temer. Isso tudo mostra que a posição do presidente está muito instável e frágil, mas ninguém consegue dizer até quando ele ficará no poder. Ao mesmo tempo, não há uma solução à vista para a crise - com ou sem Temer. Temer tem uma maioria no Congresso que atualmente o protege de um impeachment - a questão é, somente, por quanto tempo.
Por que com ou sem Temer não há uma solução para a crise?
Não vejo nenhum nome que poderia substituí-lo. Simplesmente não vejo alguém que poderia entrar na Presidência e fazer o país sair da crise. Em eleições indiretas, os deputados e senadores poderiam acabar escolhendo um parlamentar num Congresso em que grande parte de seus membros é acusada de corrupção. Estamos num beco sem saída e, com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição.
Qual seria a melhor solução para a crise atual?
Os partidos políticos precisam realizar uma autolimpeza e abandonar essa posição meramente de defesa para se salvarem da Lava Jato. Algum político precisa usar a crise como chance e liderar esse processo de transformação. Mas, infelizmente, não vejo atualmente nenhum político que poderia cumprir esse papel. Mesmo as gerações mais novas de políticos dependem dos caciques dos partidos - e, assim, não há como sair desse círculo vicioso e se oferecer como líder para a renovação. Por isso, não há uma solução à vista para a crise.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, visitou recentemente México e Argentina, mas não o Brasil. Esse é um sinal de que Berlim não quer se envolver com a crise brasileira?
Entre os países latinos que fazem parte do G20, o Brasil foi o único que não foi visitado por Merkel. A visita aos dois países ocorreu na semana em que a chapa Dilma-Temer estava sendo julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - e que Temer poderia perder seu mandato. É impossível para uma chefe de governo visitar o país naquele momento e se encontrar com o presidente Temer numa situação totalmente instável. Acredito que Merkel teria feito com muito prazer uma visita a Brasília, como em 2015, quando se encontrou com Dilma Rousseff. Mas, devido à situação política atual no Brasil, acredito que era simplesmente impossível.
Em entrevista à DW, Woischnik afirma que não vê nenhum nome que poderia substituir Temer. "Em eleições indiretas, os deputados e senadores poderiam acabar escolhendo um parlamentar num Congresso em que grande parte de seus membros é acusada de corrupção."
DW Brasil: Que avaliação o senhor faz da atual situação política do país?
Jan Woischnik: O país está parado, como num bloqueio imposto a si mesmo. Os poderes Executivo e Legislativo se preocupam somente com si mesmos e em limitar os danos até agora sofridos pela Operação Lava Jato, enquanto o Judiciário se politiza - e esse círculo vicioso causa um prejuízo duradouro para a democracia brasileira. Está tudo parado por conta da grande crise que foi gerada com o início da Lava Jato. Esse bloqueio é muito perigoso, porque a crise não é algo pontual, mas já dura anos.
Temer conseguirá terminar seu mandato?
Não sei dizer, pois há muitas questões em jogo, inclusive pedidos de impeachment, e sobretudo por o PSDB estar rachado na questão se vai continuar apoiando Temer. Isso tudo mostra que a posição do presidente está muito instável e frágil, mas ninguém consegue dizer até quando ele ficará no poder. Ao mesmo tempo, não há uma solução à vista para a crise - com ou sem Temer. Temer tem uma maioria no Congresso que atualmente o protege de um impeachment - a questão é, somente, por quanto tempo.
Por que com ou sem Temer não há uma solução para a crise?
Não vejo nenhum nome que poderia substituí-lo. Simplesmente não vejo alguém que poderia entrar na Presidência e fazer o país sair da crise. Em eleições indiretas, os deputados e senadores poderiam acabar escolhendo um parlamentar num Congresso em que grande parte de seus membros é acusada de corrupção. Estamos num beco sem saída e, com esse vácuo de poder político, há o risco de que algum populista ou extremista se aproveite da situação na próxima eleição.
Qual seria a melhor solução para a crise atual?
Os partidos políticos precisam realizar uma autolimpeza e abandonar essa posição meramente de defesa para se salvarem da Lava Jato. Algum político precisa usar a crise como chance e liderar esse processo de transformação. Mas, infelizmente, não vejo atualmente nenhum político que poderia cumprir esse papel. Mesmo as gerações mais novas de políticos dependem dos caciques dos partidos - e, assim, não há como sair desse círculo vicioso e se oferecer como líder para a renovação. Por isso, não há uma solução à vista para a crise.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, visitou recentemente México e Argentina, mas não o Brasil. Esse é um sinal de que Berlim não quer se envolver com a crise brasileira?
Entre os países latinos que fazem parte do G20, o Brasil foi o único que não foi visitado por Merkel. A visita aos dois países ocorreu na semana em que a chapa Dilma-Temer estava sendo julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - e que Temer poderia perder seu mandato. É impossível para uma chefe de governo visitar o país naquele momento e se encontrar com o presidente Temer numa situação totalmente instável. Acredito que Merkel teria feito com muito prazer uma visita a Brasília, como em 2015, quando se encontrou com Dilma Rousseff. Mas, devido à situação política atual no Brasil, acredito que era simplesmente impossível.
Fonte: terra.com
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